sábado, 3 de outubro de 2015

Brasil, o paraíso da renda fixa

O Brasil é o campeão mundial de juros reais (acima da inflação), o que gera duas situações extremas: você pode optar pela ponta que empresta dinheiro, ou seja investe em renda fixa (LCI, LCA, CDB, CRI, CRA, debêntures, tesouro direto, FDIC e fundos de renda fixa) ou pelo lado que toma emprestado (crédito imobiliário, cheque especial, cartão de crédito, empréstimo consignado, compras a prazo).


Enquanto nos EUA a renda fixa mais popular gera retornos anuais de 0,25%-1,0% ao ano, em um ambiente de inflação próxima de zero, o Brasil apresenta uma curva de juros convidativa, mesmo em um ambiente de inflação próxima a dois dígitos. Traduzindo em números, nosso retorno acima da inflação gira desde 5-6% para LFTs (tesouro direto selic), LTNs (tesouro direto pre-fixado) e CDBs de bancos maiores, até 7-8% para NTNBs (tesouro direto IPCA) e CDBs de bancos menores. Independemente do significado dessa sopa de letrinhas, a renda fixa brasileira fruto de um governo gastador, é um presente em moeda local para investidores tanto de curto quanto de longo prazo no Brasil.


Mas e as ações brasileiras? Sim, elas estão baratas, com multiplos baixos, mas a perspectiva para a economia brasileira não é nada positiva, e elas podem ficar bem mais baratas (cair) ou estagnar nessa situação por muitos anos, gerando no mínimo um alto custo de oportunidade. Entre a lista de investimentos mais arriscados, eu coloco ações brasileiras em segundo lugar, logo após a aventura de empreender. Riscos altos, normalmente significam retornos altos, mas o Brasil teima em distorcer essa regra. Investir em bolsa (ou em empresa própria) tradicionalmente exige retornos maiores diante do risco, e ai reside o problema. Uma selic de 14,25% (e com vies de alta), significa que o investidor/empreendedor precisa de um retorno mínimo igual ao da selic mais um prêmio pela volatilidade (risco) do negócio. Ou seja, diante de um cenário de incertezas, ninguém deveria aceitar um prêmio menor, por exemplo, que 7-10% aa. Falando em números, não compensaria investir em algo volátil sem esperar retornos de 20-25% ao ano. Mas que negócio ou empresa gera esse retorno líqudo em um cenário de crise nacional? Deixo para você responder essa pergunta.


E quais os riscos da renda fixa? Eu listaria principalmente:
1-) Marcação a mercado. Quem investe por exemplo em títulos pré-fixados ou em IPCA + juro (NTNB) mais longos e decidir vender o título antes do vencimento, em um cenário de alta forte da curva de juros, pode ser surpreendido com retornos negativos. A melhor maneira de mitigar esse risco é diversificar com títulos pré, pós e selic, e com vencimentos diferentes (curtos e longos), sendo os mais longos para um capital que você não precisará tão cedo (por exemplo para a universidade dos filhos ou aposentadoria).
2-) Banco emissor do CDB quebrar. A regra é: quanto menor e mais arriscado for o banco, maior o retorno do CDB esperado por investidores. Mas o banco emissor pode simplesmente quebrar como aconteceu com o Panamericano, Santos e o Cruzeiro do Sul. Felizmente existe um fundo garantidor FGC que serve como uma espécie de seguro para investimentos até R$ 250mil por CPF e por banco. A questão novamente é diversificar, investindo em diferentes instrumentos de renda fixa.
3-) Risco de inflação. Por incrível que pareça os títulos tipo NTNB (IPCA + juro) apresentam também um risco inflacionário as vezes desprezado. Vamos a um exemplo simples e didático: alguém que comprou um título que vencerá em 1 ano (curto prazo), pagando 7% + inflação, vai pagar no vencimento um imposto de 20% (rendimento entre 181 e 360 dias) sobre o lucro. Para uma inflação de 8% aa, isso quer dizer mais ou menos um retorno depois do IR de 12% ou de 4% acima da inflação. Mas e se a inflação subir para 40%? Nesse caso, o retorno depois do imposto sera de 37.6%, porem um investimento gerou um retorno liquido acima da inflação de -2,4%. O mesmo vale para um título pré-fixado por exemplo de 15% aa. Mesmo fugindo do risco da marcação a mercado, corre-se o risco de um retorno real (acima da inflação) negativo.
4-) Governo dar calote. Acho difícílimo mas não quero deixar de citar. Esse não é um risco apenas da renda fixa, mas de todo o sistema financeiro nacional (incluindo ações, imóveis e tudo mais em volta que envolva dinheiro incluindo o seu emprego). Eu chamo esse cenário de fuga para as cavernas. O motivo de ser um risco quase zero é porque a divida interna está em reais, e o governo em último caso pode imprimir mais reais a hora que quiser (gerando inflação) e pagar a dívida.


Apesar dos riscos, que se bem diversificado são quase que totalmente eliminados, a renda fixa brasileira é um grande presente para quem poupa. Infelizmente essa é uma realidade em moeda local (real), caso o retorno esperado seja em dólar, ai o risco cambial pode eliminar parcialmente ou ate por inteiro o ganho da renda fixa brasileira. Para o investidor estrangeiro, o risco cambial fruto da instabilidade política-econômica continua alto, reduzindo em muito a atratividade do juro imoral alto brasileiro.

6 comentários:

  1. Olá I.D.

    Gostei da proposta do blog, irei acompanhar.

    Quero estudar sobre renda fixa para começar a investir, tu acha melhor ler artigos na internet ou comprar algum livro?

    Tenho estes na minha lista:
    Investimentos Inteligentes – Gustavo Cerbasi
    Investimentos Inteligentes – Livro de exercícios - Gustavo Cerbasi
    Títulos Públicos sem Segredos - Fábio Guelfi Pereira

    Já leu algum destes? O primeiro é de 2013, fico com receio de compra-lo e ter informações desatualizadas. Pode me dar alguma dica de onde e como estudar sobre renda fixa?

    Abç!

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  2. Ola Arthur,

    Sim eu li o 1. e o 3. da lista. O Gustavo Cerbasi faz a linha mais auto-ajuda, e eu recomendo os livros dele como motivacional para poupar, investir, mudra habitos de gastos e pensar num planejamento financeiro para aposentadoria, porém o livro dele não é muito técnico.
    Quanto ao livro do Fábio, é um bom livro, mas as opções de investimento em renda fixa e regras tributárias mudam ano a ano.
    Eu te recomendaria você encontrar bons sites (sites técnicos, blogs e canais do YouTube) para se manter atualizado.
    Eu começaria pelo tesouro direto. Agora é um excelente momento para investir no tesouro e o primeiro passo seria abrir uma conta numa Corretora, de preferência em uma que não cobre taxas ou que a mesma não passe de 0,10% ao ano.
    De uma olhada nesse site com o passo a passo para investir no TD:
    http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-passo-a-passo

    Abs e continue nesse caminho.

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  3. Por isso o brasileiro prefere manter o dinheiro "parado" do que empreender.
    O risco, trabalho e dores de cabeças são muito menores do que tocar uma empresa.

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  4. Gostei muito da proposta e do conteúdo do blog, já adicionei no meu blogroll!

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  5. Otimo blog, era o que eu estava procurando, comecei a investir este mês, coloquei em um CDB de 100% e em um CDB progressivo que vai aumentando a rentabilidade de acordo com o tempo, chegando aos 48 meses com 120% do CDI, vou acompanhar seu blog, acredito que o pais do jeito que esta, e com o juros a 14% a bolsa de valores não vale o risco,

    avidasecretadetodd.blogspot.com.br

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