Recentemente completei 2 anos morando nos Estados Unidos, e
sempre me perguntam: como é viver aqui e do que eu mais gosto e menos gosto nesse
pais. Nesse post vou responder uma das coisas que mais me atrai aqui, viver numa verdadeira economia de mercado
Milton Friedman, Margaret Thatcher e Ronald Regan são meus
hérois e me identifico muito com os ideais do liberalismo econômico, ou seja, menos interferência
do governo, mais competição no setor privado, um estado menor e sem excessos tributários, ampla abertura comercial, flexibilização das leis trabalhistas e liberdade de empreender. Desses
pontos vou destacar três que me chamam a atenção:
1-) Começo pelas leis trabalhistas. A maioria dos contratos
de trabalho são por hora, e não existe décimo terceiro salário, adicional de
férias, feriados a perder de vista (sem falar nos feriados pontes), FGTS,
imposto sindical, além de sindicatos onipresentes e normas em excesso ditando o
que patrões e empregados devem ou não fazer. Se a empresa te manda embora, você
não tem direito a quase nada a título de idenização, ou seja, é relativamente
fácil mandar embora. A primeira vista isso pode parecer péssimo para o trabalhador,
mas pergunte por exemplo a um ajudante da construção civil ganhando seus USD 20/h
(ou USD 3500/mes), que dirige um bom carro, que mora em uma casa com o mínimo
de conforto, se ele trocaria tudo isso por um sistema engessado que gerasse
menos empregos, salários achatados e maior dificuldade em contratação. Pergunte
também se esse trabalhor estaria disposto a dividir uma boa parte da renda para
sustentar o governo, sindicatos e subsídios governamentais. No final o que
interessa a esse trabalhador é quanto sobrará no bolso e como poderá ser mais
produtivo para acelerar o seu ganho. Isso gera um tremendo impacto na economia
e no emprego. Como o empregador não tem medo de contratar um novo funcionário,
ou de definir um regime de contrato flexível (x horas por semana), as
contratações são rápidas, a economia gira, e a produtividade é maior. Uma secretária
ou um contador pode negociar um contrato de 15h semanais caso queira passar mais
tempo com a família. Um aposentado pode usar sua experiência e trabalhar
somente nos finais de semana, sem intermediação e burocracia governamental.
2-) Abertura comercial e o impacto tanto no preço como na oferta de produtos e serviços: Um exemplo simples disso é quando
vou a um supermercado aqui. Fico impressionado com a variedade absurda de produtos
do mundo todo a preços baixos. Isso se deve ao volume de compras desses
varejistas, a alta competitividade da indústria e a baixa alíquota de
importação que o país possue com vários parceiros comerciais, garantindo uma
maior competitividade diversidade no setor, e todos ganham, o consumidor que
paga menos e o empresário que fatura mais. Se você quiser comprar um queijo espanhol,
um automóvel coreano, uma bicicleta chinesa ou açucar brasileiro, você encontra facilmente,
e é consumidor, não o governo, que define o que consumir. Comércio foi e sempre
será o divisor de águas no desenvolvimento das nações. Recentemente assistimos países como Chile, Peru, México e Colombia dando saltos no PIB devido a uma
maior abertura comercial com ampliação das parceiras comerciais com a Europa,
EUA e países do pacífico.
3-) Competição, empreendedorismo e a nova economia: Quer um taxi? Chame o Uber
que custa 1/3 do preço de um taxi comum, com mais conforto, rapidez e facilidade
para agendar, rastrear e pagar pelo serviço usando apenas o telefone. Precisa de
um cartão de crédito? Empresas como American Express e Visa, que brigam arduamente
por novos clientes, não só não te cobram anuidade, mas te pagam uma bonificação
para você virar cliente. Precisa financiar uma casa e é um bom pagador? Você
pagará por um juro (risco) menor se tiver um bom histórico de crédito, e não
simplesmente baseado no perfil único, padrão da população. Alguns sites chegam a oferecer
serviços tipo leilão, com um leque de ofertas de financiamento de bancos baseado no
seu histórico de crédito, levando a competição a uma oferta de juros baixos, algo
apartir de 2-2,5% ao ano. Tem uma idéia brilhante de um novo serviço ou
aplicativo? A disponibilidade de capital de risco para empreendedores é grande,
com opções de investidores anjos, VCs, clubes de investimentos ou empresas
interessadas em ser seu sócio. Em ultimo caso, você pode por exemplo pedir um
financiamento reverso da casa para ter o capital pra abrir um novo negócio, que
muitas vezes pode ser aberto em menos de uma semana a um custo baixissimo.
Mas nem só de flores vive pais. Começando com o custo da
saúde, onde se paga o preço alto pela inovação (remédios novos são absurdamente
caros) e por seguros que médicos e hospitais são obrigados a ter. Ou eles contratam
esses seguros caríssimos, ou correm o risco de sofrerem processos milionários
por erros médicos. Viver ou passear pelos Estados Unidos sem um seguro saúde
pode se tornar um risco alto para o bolso.
Outra coisa que sinto falta: experimente deixar o dinheiro
no banco rendendo na renda fixa aqui, e você terá que se contentar com o banco pagando algo como 1% ao ano de juros. Como escrevi no meu ultimo post, juros nominais de
16%-17% (ou juros reais de 7-7,5% ao ano) só mesmo no Brasil. A alternativa
aqui para quem quer montar um capital para a aposentadoria é tomar risco, ou
seja investir no mercado acionário.
Por fim, destacaria o alto endividamento do americano. O
crédito amplo e barato, somado a sede dos bancos em conquistarem novos clientes,
pode ser perigoso se não for acompanhando de uma devida educação financeira e de um maior
consciência no consumo. Esses excessos financeiros as vezes geram anomalias e
bolhas, como aconteceu na crise de 2008 (sub-prime). Tomemos como exemplo os
estudantes universitários onde cartões de crédito são muitas vezes oferecidos
no momento da matrícula, sem ao menos terem uma renda estabelecida ou orientação
financeira adequada. Some isso ao altíssimo custo da educação superior e os
juros acima do mercado do crédito
estudantil (afinal o risco é maior), e você tem um cenário onde muitos jovens
já saem da universidade superendividados.
Nesse post foquei mais nos fatores financeiros, mas
futuramente quero escrever dos pros e contras de outros aspectos do dia a dia de se viver nesse
país.